segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Treinamento intervalado de alta intensidade, Uchida (2013) - publicado na revista Muscle in Form 2013 (ano 15, ed.79]

O treinamento intervalado de alta intensidade (high intensity interval training-HIIT) surge na “praça” como algo novo e revolucionário, principalmente para aqueles que possuem pouco tempo e querem um resultado na melhoria principalmente da capacidade cardiorrespiratória, muscular  e da diminuição da gordura corporal (Schoenfeld e Dawes, 2009), e logicamente estão aptos ao forte trabalho. Mas, como tudo na área da atividade física, nada é plenamente novo, mas uma reinvenção com boa divulgação. A prática dos treinos intervalados de alta intensidade já foi parte da preparação física de atletas expressivos de resistência aeróbia, como Paavo Nurmi atleta de meia e longa distância da década de 1920, ou ainda do extraordinário Emil Zatopek que na década de 1950 popularizou ainda mais a divulgação de tal método de treino (Buchheit e Laursen, 2013a).
Os estudos sobre HIIT nos dias de hoje não estão apenas com um olhar na melhora do rendimento esportivo, como na diminuição das marcas em corridas no atletismo. Existem pesquisas demonstrando que esse tipo de metodologia de treinamento é capaz de melhorar a capacidade cardiovascular e respiratória, a pressão arterial, a função contrátil do músculo cardíaco e a sinalização do hormônio insulina (controla a glicose no sangue) (Tjnna et al., 2008), e além disso pode gerar um grande gasto energético, resultando em uma significativa diminuição da gordural. Porém, deve-se deixar claro que o treinamento intervalado de alta intensidade deve ser praticado por individuos que estejam realmente aptos a realizar esse tipo de prática, com uma sólida base fisiológica e musculo-articular, resultado de um treinamento progressivo, e uma boa saúde cardiovascular (pessoas com idade acima de 35 anos, é indicado um check-up cardiovascular e metabólico prévio com um médico).
O treinamento intervalado de alta intensidade é representado pela execução de repetidas séries de exercícios [ex. corrida (tiros), ciclismo, natação] de alta intensidade, podendo ser inferior a 45 segundos, denominada curta duração, e de 2 a 4 minutos denominada longa, intercaladas por períodos de recuperação. A duração total do treino entre 5 a 40 minutos, incluindo os períodos de recuperação (Buchheit e Laursen, 2013a, b). Os intervalos de alta intensidade são realizados acima do limiar de lactato (i.e. ponto onde há um acúmulo de lactato no sangue, a remoção não supera a produção de ácido láctico), próximo da capacidade aeróbia máxima (VO2max), e da fadiga, essa série ou intervalo de alta intensidade é seguida de um intervalo de baixa intensidade, período de recuperação, que permite que o organismo faça o tamponamento (i.e. deixe o meio menos ácido) e metabolize o ácido láctico do músculo e sangue, permitindo assim que o praticante se recupere para a próxima série de alta intensidade (Schoenfeld e Dawes, 2009). A intensidade pode ser controlada e monitorada utilizando uma escala de percepção de esforço (PSE), como a escala de Borg [ex.: CR-10 (0-10) ou de 6-20], onde o indivíduo deve manter a intensidade ou sensação de “pesado” [≥6 na escala (CR-10)  ou ≥15 (escala 6-20)]  ou “muito pesado” em cada treino. A PSE além de ser prática, respeita a individualidade de cada um, e reflete o grau de estresse gerado sobre os aspectos fisiológicos, bioquímicos e psicológicos. A utilização do percentual da frequência cardíaca máxima para o controle da intensidade do treino nem sempre é a melhor ferramenta para a prescrição, pois essa não reflete precisamente a intensidade, principalmente, durante os tiros de alta velocidade e curtíssima duração (inferiores a 30 segundos) (Buchheit e Laursen, 2013a). Em função da sua característica intensa, vale destacar a importância da necessidade da inclusão de sessões de recuperação, ou seja, treinar todos os dias em alta intensidade e adicionamento fazer outros treinos como musculação pode ser demais para o organismo, levando a queda do desempenho, maior susceptibilidade a lesões, e possível queda da imunidade. Por isso é necessário um planejamento, baseado nos principios da sobrecarga e recuperação, com cuidado nos dias após o treino HIIT, que devem ser menos intensos, talvez alternando dias mais fortes (ex.: HIIT), médios (ex.: duração média, treino intervalado ou contínuo) e fracos (ex.: baixa intensidade, mais longo e contínuo).
A utilização do HIIT parece ser uma alternativa boa para a perda da gordura, melhora do funcionamento cardiorrespiratório e da saúde, pricinpalmente comparados aos intermináveis treinos aeróbios de longa duração e intensidade moderada. Porém, importante destacar mais uma vez que em função da sua natureza de alta intensidade deve ser feita com cuidado, onde previamente o praticante deve estar apto a essa exigência física e fisiológica, assim não causando nenhum efeito negativo a saúde.


Referências bibliográficas:
Buchheit , M.; Laursen, P.B. High-Intensity Interval Training, Solutions to the Programming Puzzle part I. Sports Medicine , v. 43, p. 313–338, 2013a.
Buchheit , M.; Laursen, P.B. High-Intensity Interval Training, Solutions to the Programming Puzzle part II. Sports Medicine , v. 45, p. xxx–xxx, 2013b.
Laursen, Paul B.; Jenkins, David G. The scientific basis for high-intensity interval training. Sports Medicine, v. 32, n. 1, p. 53-73, 2002.
Schoenfeld, B.; Dawes, J. High-Intensity Interval Training: Applications for General Fitness Training. Strength and Conditioning Journal, v. 31, n. 6. P.44- 46, 2009.
Tjønna A.E. et al. Aerobic interval training versus continuous moderate exercise as a treatment for the metabolic syndrome: A pilot study. Circulation 118: 346–354, 2008.

9 comentários:

  1. Curti muito. Parabéns. Um abraço. José Guilherme Jr.

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  2. Excelente!!! Realmente um ótimo resumão, o Gg deve ter muito orgulho de vcs!!! E realmente o mundo Fitnness sempre reinventa as mesmas coisas!!!!

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    1. Obrigado Rodrigo, e realmente tudo se modifica...espero que para a melhor!

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  3. Olá queridos Zé Guilherme e Rodrigo, muito obrigado. E vamos caminhando... Abração.

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  4. 90% dos meus treinos de corrida e musculação foram intervalados de alta intensidade em 2013! Na prática os resultados foram significativos. Mas, o cabra tem que ser macho, pois são dolorosos.

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  5. INTERESSANTE ARTIGO! Será um começo de uma era? Onde mesmo sendo tão antigo e com falta de força o HIIT antes agora vem buscando grande espaço na comunidade científica, mais de fato como já temos grandes publicações e recentes seus benefícios em perda de gordura visceral, melhora do VO2, assim aptidão cardiorespiratoria, melhoras para pessoas saldáveis..., mas ainda não se tem dados para relatar sobre Idosos e protocolos a serem aplicados. E por falar protocolos agora o que mais tem é isso em treinamento HIIT. Parabéns professores por nos ajudarem.

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    1. Igor, fico feliz que estejamos ajudando um pouquinho aqueles que gostam e trabalham na área. Obrigado.
      É verdade para as pessoas ditas saudáveis, o HIIT parece ser algo interessante, mas acredito que em função da alta intensidade tudo deve ser dosado, uma boa periodização deve ser bem vinda. Não em função apenas das questões cardiorrespiratórias, mas principalmente com a preocupação no sistema osteo-músculo-articular, nós vemos muito nesses programas de TV onde as pessoas devem emagrecer a todo custo, e o instrutor inserindo cargas altíssimas e até mesmo alto impacto para aqueles que não tem uma condição mínima para suportar toda esta carga de treino. Ah, e sobre os idosos olha o que o Prof. Izumi Tabata, um dos idealizadores de um famoso protocolo de HIIT diz: "Since the exercise is a little bit dangerous for those other than seasoned athletes, I would advise beginners to start at a low intensity, and stay within their comfort zone. Once they feel they are getting stronger, they can then increase the intensity little by little."
      Pode acessar o site da universidade onde ele é o diretor:
      http://www.ritsumei.ac.jp/eng/html/research/areas/feat-researchers/interview/izumi_t.html/

      Grande abraço, Uchida.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Bom, por enquanto HIIT para idosos acho que não é uma boa ideia. Mas, lógico tudo dentro de um contexto, que idosos estamos falando, não é verdade? Abraços!

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