sábado, 27 de dezembro de 2014

A DIFERENÇA ENTRE O ANTIDOTO E O VENENO É A DOSE.

por Vitor Tessutti*


Ano para começar e novos objetivos a serem definidos. Se neste ano você começou a correr e já está pensando em corridas mais longas, ou se está pensando na primeira maratona após ter feito sua primeira meia maratona, atente-se a como irá evoluir os seus treinamentos para esses novos objetivos. 

A lesão é um dos grandes inimigos dos corredores e o seu surgimento está atrelado a alguns pontos negligenciados pelos mesmos. Segundo Hrejlac (2004) 60% das lesões são decorrentes de erros na prescrição do treinamento. Estas falhas podem incluir uma excessiva quilometragem semanal, uma rápida mudança na intensidade, e um aumento súbito em treinos de longa distância. Dentre estas, a que daremos destaque aqui é a progressividade do volume de treinamento semanal, ou a quantidade de quilômetros percorridos durante a semana. Esta é uma das principais variáveis a serem controladas dentro do processo de treino.

O volume de treino tem sido apresentado como um fator de risco para a origem de lesões. Uma revisão de 11 artigos feita por Saragiotto e colaboradores em 2014, demonstrou que os artigos que pesquisaram a relação de volume semanal e lesão, evidenciavam que volumes maiores que 64 km/semana tornavam os corredores mais suscetíveis a lesões. Somente um adendo deste estudo: o fator mais evidente identificado pelos autores nestes 11 artigos foi a existência de lesões que ocorreram 12 meses antes do levantamento. Ou seja, quem se lesionou no referido tempo tem que ter mais cuidado ao voltar, pois está mais suscetível a lesão.

Mas, voltando ao volume de treinamento, outro grande fator é a progressividade com que aumentamos o volume semanal. Correr 15 quilômetros em uma semana e na semana seguinte aumentar para 20 quilômetros (aumento de 33%) pode ser um risco que estamos nos expondo ao surgimento de lesões nos membros inferiores segundo um estudo da Universidade de Arhus, na Dinamarca, realizado em 2014 por Nielsen e colaboradores. Segundo os autores, um aumento repentino de mais de 30% na distância semanal, ao longo de um período de 2 semanas, pode elevar o risco para o desenvolvimento de lesões relacionadas à corrida.



Este estudo, denominado de DANO-RUN, pesquisou durante um ano 874 corredores iniciantes que estruturavam o seu próprio treinamento, e, com isso, foram divididos em 3 grandes grupos baseados na progressão de suas quilometragens semanais. Um deles é de regressão ou progressão de até 10% do volume, o outro com progressão de 10 a 30%, e o último com progressões maiores que 30%. Após um ano de estudo, 202 corredores (23,1%) apresentaram alguma lesão.

Os autores consideraram as dores patelofemorais (parte da frente do joelho), Sindrome do trato Ílito Tibial (dor na região lateral do joelho), tendinopatias patelares, Sindrome do Stress Tibial Medial (dor na canela), lesões no Glúteo Médio, Bursite trocantérica (dor na lateral do quadril)  e lesões no Tensor da Fascia Lata (também na lateral do quadril) como lesões relacionadas ao aumento exagerado da distância percorrida.  

Segundo os autores, a taxa de lesão pode ser baixa quando o aumento da distância semanal se der  entre 3 e 7%, em períodos seguidos de 2 semanas. Contrariamente, esta taxa de lesão pode ser elevada quando a progressão ocorrer a 25% nas primeiras semanas e mais 25% no final de 4 semanas, mesmo esta progressão não excedendo aos 30%. O problema, neste caso, é a falta de um período de adaptação para cada elevação de quilometragem.


Para corredores com mais de um ano de experiência, o estudo de Boyer e colaboradores (2014), realizado na University of Massachusetts-Amherst, nos EUA, verificou que corredores com menos de 24 quilômetros semanais têm uma coordenação de movimentos dos membros inferiores diferente dos corredores com volume maior de 32 quilômetros semanais. Neste caso, os corredores com maior volume apresentaram menos lesões nos joelhos. Sendo assim, os autores acreditam que os padrões de coordenação dos movimentos dos membros inferiores na corrida em indivíduos que correm mais são otimizados ao ponto de diminuir a chance de lesões nos joelhos.

Considerando estes dois últimos estudos podemos afirmar que para corrermos com menor susceptibilidade à lesões, precisamos considerar que ao iniciar a corrida é preciso controlar muito bem o quanto do volume semanal será aumentado, respeitando um aumento de até 10% a cada duas semanas. Já para os indivíduos mais experientes, um volume semanal mais elevado pode fazer com que se otimize a coordenação de movimentos dos membro inferiores. Para a corrida, a máxima: “ A diferença entre o antídoto e o veneno está na dose” calça como um tênis extremamente confortável. Você não acha? 


Referências Bibliográficas: 

Hreljac, A. (2004). Impact and overuse injuries in runners. Medicine and Science in Sports and Exercise, 36(5), 845-849.

Saragiotto, B. T., Yamato, T. P., Junior, L. C. H., Rainbow, M. J., Davis, I. S., & Lopes, A. D. (2014). What are the main risk factors for running-related injuries? Sports Medicine, 1-11.

Nielsen, R. Ø., Parner, E. T., Nohr, E. A., Sørensen, H., Lind, M., & Rasmussen, S. (2014). Excessive progression in weekly running distance and risk of running-related injuries: an association which varies according to type of injury. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, 44(10), 739-747.


Boyer, K. A., Freedman, S. J., & Hamill, J. (2014). The role of running mileage on coordination patterns in running. Journal of Applied Biomechanics,30(5), 649-654.

* Bacharel em Esporte (EEFEUSP), Mestre em Ciências da Reabilitação (FMUSP), Sócio da Clinica da Corrida, Professor Universitário, Personal Trainer e corredor nas horas vagas.

sábado, 9 de agosto de 2014

Dano celular muscular e dor muscular de início tardio (Boletim FCM-UNICAMP, junho de 2014)

A prática regular de atividade física, principalmente o exercício físico bem orientado é sem dúvida alguma um importante componente para manter a saúde, ou ainda, aditivamente no tratamento de diversas patologias, como algumas doenças cardiovasculares, metabólicas e ósteo-músculo-articulares. Porém, o início da prática de exercícios físicos pode vir acompanhado de dores musculares no dia seguinte, denominado de dor muscular de início tardio (DMIT, e em inglês Delayed Onset Muscle Soreness [DOMS]), esta tem início nas primeiras oito horas após a sessão da atividade física, atingindo o seu pico nas 24 ou 48 horas no grupo muscular treinado.
A etiologia da DMIT ainda não está bem definida, porém existem diversos fatores relacionados ao surgimento dessa, como o dano celular muscular, a inflamação (i.e. aumento de PGE2, edema), o aumento do estresse oxidativo (radicais livres) e o espasmo muscular (i.e.  isquemia e acúmulo de metabólitos). O surgimento da DMIT é mais frequente em indivíduos pouco ativos e sedentários, ou ainda quando realizamos treinos, exercícios ou movimentos (principalmente em contrações excêntricas, e.g. descer uma longa escadaria) que não estamos acostumados, portanto, o começo de um treinamento físico geralmente é acompanhado de uma sensação dolorosa na musculatura exercitada, muito sensível à palpação, acompanhado também de edema, aumento da atividade enzimática no sangue de proteínas como a creatina quinase (CK) ou lactato desidrogenase (LDH) e com a diminuição da flexibilidade e força. Pode parecer um quadro desanimador para a saída do sedentarismo, e início de uma vida mais ativa fisicamente, porém vale apena ressaltar que o quadro é transitório, alguns pesquisadores na área inclusive denominam como “microtrauma adaptativo”, o que torna o indivíduo treinado menos susceptível a DMIT e ao dano muscular.
Uma das causas mais relacionadas à DMIT é o dano ou lesão da célula muscular, que é caracterizado pelo rompimento da membrana (sarcolema), onde há o extravasamento do seu conteúdo intracelular para o extracelular, esse pode ser medido no pelo aumento da atividade de CK e LDH, e a concentração de mioglobina e troponina no sangue. Esse dano pode ser causado pela alta da carga de treino, contrações musculares vigorosas e/ou volumosas, principalmente as excêntricas, onde as estruturas miofibrilares não suportam o estresse mecânico, gerando um desarranjo nos sarcômeros (e.g. rompimento das linhas Z), e dano em diversas estruturas da fibra muscular, como retículo sarcoplasmático, túbulos transversos e sarcolema, consequentemente a capacidade de gerar força fica diminuída, o que atualmente é considerado um dos marcadores para o dano muscular.
Geralmente a DMIT está relacionada à intensidade do exercício, ou seja, o peso exagerado que é colocado na barra ou no equipamento de musculação, ou ainda na velocidade da corrida, porém o volume (quantidade) também é importante, o número de séries e repetições nos exercícios de musculação, ou a quantidade de quilômetros que um indivíduo corre quando demasiado também pode ser significativo para o surgimento da DMIT. Sendo assim, principalmente para um indivíduo pouco ativo fisicamente, o controle dessas duas variáveis é muito importante. 
No início de um programa de exercício físico, evite nas primeiras semanas alta intensidade e alto volume, comece com pouco peso, e um baixo número de séries e repetições (e.g. 1 a 2 séries de 12 repetições), e aumente a carga de treino progressivamente, assim terá um começo menos dolorido e mais prazeroso. 

Prof.Dr. Marco Carlos Uchida
Professor do Departamento de Estudos da Atividade Física Adaptada, FEF/UNICAMP
Líder pesquisador do GEPEFAN – Grupo de Estudos e Pesquisa em Exercício Físico e Adaptações Neuromusculares

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Doenças Metabólicas e Sistema imune

A cada dia fica mais clara a associação entre alterações metabólicas "patológicas" e a deterioração do sistema imune causada por tais alterações. Por outro lado, a prática regular de exercícios tende a ajustar o metabolismo e consequentemente o sistema imune. Entenda um pouco mais como isso acontece nessa revisão que publicamos esse ano. Abaixo o resumo:



Glucose and glutamine are important energetic and biosynthetic nutrients for T and B lymphocytes. These cells consume both nutrients at high rates in a function-dependent manner. In other words, the pathways that control lymphocyte function and survival directly control the glucose and glutamine metabolic pathways. Therefore, lymphocytes in different functional states reprogram their glucose and glutamine metabolism to balance their requirement for ATP and macromolecule production. The tight association between metabolism and function in these cells was suggested to introduce the possibility of several pathologies resulting from the inability of lymphocytes to meet their nutrient demands under a given condition. In fact, disruptions in lymphocyte metabolism and function have been observed in different inflammatory, metabolic, and autoimmune pathologies. Regular physical exercise and physical activity offer protection against several chronic pathologies, and this benefit has been associated with the anti-inflammatory and immunomodulatory effects of exercise/physical activity. Chronic exercise induces changes in lymphocyte functionality and substrate metabolism. In the present review, we discuss whether the beneficial effects of exercise on lymphocyte function in health and disease are associated with modulation of the glucose and glutamine metabolic pathways.



 

domingo, 16 de março de 2014

Emagrecer e preservar a massa muscular: a importância do treinamento de força.

Treinamento de força na preservação massa muscular em dietas para perda de peso
By Uchida, M.C. (2014). Publicado na revista Muscle in Form (ano 16, ed. 80, 2014)


O Brasil atualmente é o segundo país com o maior número de academias de ginástica no mundo com aproximadamente sete milhões de alunos matriculados, perdendo apenas para os Estados Unidos. Portanto, poderíamos imaginar que os brasileiros estão mais envolvidos com a prática regular de exercícios físicos, e com isso um maior controle em relação ao excesso de peso, obesidade e as doenças relacionadas, como o diabetes e as doenças cardiovasculares. Mas, infelizmente não é isso que está sendo verificado, segundo os dados do Portal Brasil, praticamente 50% dos brasileiros adultos estão com excesso de peso (52,6% homens e 44,7% mulheres). Como fazer para reverter ou pelo menos controlar essa situação preocupante? Acho que todos sabem, o principal é gerar um balanço calórico negativo (em média 500 a 1000   Kcal/dia), ingerir menos e gastar mais calorias nas 24h do seu dia, isso se dá através de uma reeducação alimentar (ingerir menos alimentos processados, gordurosos, doces e refrigerantes e aumentar a ingestão de cereais, frutas, legumes, hortaliças [mais fibras na dieta]) e uma prática regular de atividades físicas, como exercícios aeróbios (caminhadas, natação) e de força (musculação).
Para a perda de peso o mais comum e decisivo é o controle da ingestão alimentar, essa muitas vezes é sinônimo de restrição calórica, lembrando que o gasto energético de repouso de um homem (70kg) é de aproximadamente 1700 Kcal e de uma mulher (58Kg) 1340 Kcal, ou seja, em um dia geralmente pode-se gastar em média de 2000 a 2500 Kcal dependendo do grau de atividades que a pessoa realiza. Dietas baseadas em uma ingestão muito baixa em calorias, podem resultar em uma perda rápida de peso, mas também com significativa perda de massa magra (ex. massa muscular), chegando a representar 40% do perda total de peso. A introdução de exercícios aeróbios também é uma prática importante, principalmente porque pode gerar um gasto energético significativo (maior que 500 Kcal) em função do seu volume (longo tempo e/ou distância percorrida), além do seus benefícios cardiovasculares e metabólicos, porém apenas o estímulo de exercícios aeróbios baixa intensidade nessas dietas severas (ex. 800 Kcal)  não é suficiente para manter a massa muscular, uma pesquisa de Bryer e colaboradores (1999) feita com adultos obesos mostrou que após 12 semanas nessas condições descritas acima, eles perderam 18kg de peso, mas 22% desse total foi massa magra. Quais as consequências dessa perda? Há também uma redução na força e potência, o que em um individuo adulto jovem não teria grandes comprometimentos, mas em um idoso poderia ser mais danoso na questão funcional, diminuindo a sua capacidade para executar as tarefas da vida diária (ex. as atividades domésticas, ou subir escadas). Outro ponto negativo é a diminuição da  taxa metabólica de repouso, que não seria muito grande, mas contribuiria para uma gasto energético menor durante o dia, algo ruim para quem quer emagrecer.


Qual seria a solução para manter a massa muscular e o gasto energético? A resposta é simples, o treinamento de força, a musculação. Porém, quando o praticante ou aluno está com excesso de peso e logicamente tem por objetivo a perda de gordura, muitos instrutores colocam eles apenas nos exercícios aeróbios (ex. caminhada, corrida, pedaladas) e/ou na sala de musculação com exercícios de baixa intensidade (peso leve) e com altas repetições (ex. 2 a 3 séries de 20 repetições por exercício), longe das repetições máximas (RM). Esse tipo de treinamento corresponde ao objetivo de melhora da resistência muscular, e pode não ser o mais eficiente na questão do aumento da força e manutenção (ou até aumento) da massa muscular, principalmente por longos períodos (mais de três meses).

Esta matéria tem por objetivo destacar que mesmo para aqueles que possuem o objetivo principal, a perda de peso, o importante é a perda da gordura e a preservação ou aumento da massa muscular e força, e para isso é necessário um treino com menor volume e maior intensidade, característico das sessões de exercícios para hipertrofia muscular (ex. 3 séries de 8 a 12 repetições [pesado]), próximo das repetições máximas. Um trabalho clássico nesta área é a de Ballor e colaboradores (1988) onde mulheres obesas submetidas a uma dieta com 1000 Kcal a menos que o normal, durante oito semanas e praticando o treinamento de força (3 vezes por semana, 3 séries de 10 repetições [sendo a última série chegando a exaustão]), gerou aproximadamente uma perda total de peso de quatro quilos (4 Kg), diminuição de quatro quilos e meio (4,5Kg) gordura e aumento de meio quilo (0,5 Kg) de massa magra e ainda uma elevação da força muscular. E como seria uma restrição calórica em idosos obesos? De acordo com o artigo de Frimel, Sinacore e Villareal (2008), esses idosos foram submetidos a uma dieta que levasse a um deficit energético diário de 750 Kcal (com distribuição de macronutrientes: 20% proteína, 30% gordura e 50% carboidrato) e ainda adicionado um programa de treinamento com exercícios de flexibilidade, equilíbrio, aeróbio (baixa intensidade) e força (alta intensidade de forma progressiva, chegando a treinar com 3 séries de 8 a 12 repetições [85%1RM]). Após seis meses, eles diminuíram a gordura corporal com uma leve perda da massa magra, porém, muito inferior ao grupo que só realizou a dieta. E ainda aumentaram a força de membros inferiores e superiores, muito importante para o bom desempenho das atividades da vida diária (AVD).

Um bom emagrecimento, além da perda da gordura  deve ser acompanhado pela preservação da massa muscular, e não apenas o retrato da diminuição do peso absoluto registrado pela balança. E a melhor forma para isso é inclusão da prática do treinamento de força, musculação, portanto associe essa a sua reeducação alimentar para manter a força e a musculatura.


Mais informações:
BALLOR D.L., KATCH V.L., BECQUE M.D., MARKS C.R. Resistance weight training during caloric restriction enhances lean body weight maintenance. Am J Clin Nutr. 47:19-25, 1988
BRYNER, R.W. et al. Effects of resistance vs. aerobic training combined with an 800 calorie liquid diet on lean body mass and resting metabolic rate. Journal of the American College of Nutrition, v. 18, n. 2, p. 115-121, 1999.
FRIMEL, T.N.; SINACORE, D.R.; VILLAREAL, D.T. Exercise attenuates the weight-loss-induced reduction in muscle mass in frail obese older adults. Medicine and science in sports and exercise, v. 40, n. 7, p. 1213, 2008.
MEIRELLES, C.M.; GOMES, P.S.C. Acute effects of resistance exercise on energy expenditure: revisiting the impact of the training variables. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 10, n. 2, p. 122-130, 2004.
PORTAL BRASIL. Pesquisa indica que quase metade dos brasileiros está acima do peso. http://www.brasil.gov.br/saude/2012/04/pesquisa-indica-que-quase-metade-dos-brasileiros-esta-acima-do-peso
VOLEK, J.S.; VANHEEST, J.L.; FORSYTHE, C.E. Diet and exercise for weight loss. Sports Medicine, v. 35, n. 1, p. 1-9, 2005.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Exercício Físico e vacinação



Como todos sabemos, nosso organismo está em constante tentativa de se adaptar ao ambiente. No caso do sistema imune (SI), a adaptação consiste em reconhecer possíveis agentes causadores de doenças e produzir contra eles respostas específicas. Ou seja, anticorpos (produzidos pelos linfócitos B) e células T ativadas contra o dado agente patogênico.

Essa capacidade imune foi explorada no século XVIII pelo médico inglês Edward Jenner que, ao injetar pus de feridas de vacas infectadas com varíola bovina em um menino de quatorze anos, conseguiu imuniza-lo contra a varíola humana, uma doença que matava muitas pessoas nessa época. A imunização só foi possível pelo fato dos causadores da doença na vaca e na criança serem bem parecidos. Assim, o menino, ao produzir anticorpos e linfócitos T contra o causador da varíola bovina acabou, “por tabela” gerando medidas adaptativas eficientes contra a doença em humanos.

A vacinação é hoje a forma mais eficiente e com melhor custo-benefício para prevenção de doenças. Infelizmente, para que uma vacina funcione ela precisa provocar o sistema imune com uma eficácia tal que este sistema possa responder de forma adaptativa. Na prática, diversos fatores afetam a eficácia das vacinas sendo uma delas a idade.  Por exemplo, para adultos jovens a vacina para a gripe tem uma eficiência de 70%a 90% enquanto que num idoso essa eficácia é de apenas 17-53%! Além da idade cronológica, outros fatores como ser portador de determinadas condições (ex. diabetes, doença cardiovascular, alguns tipos de câncer, osteoporose, estresse crônico ou depressão, consumo excessivo de álcool dentre outros) também reduzem a eficácia de uma dada vacina.

O exercício físico, ao contrário é um fator ambiental descrito na literatura científica como capaz de aumentar a eficácia das vacinas. Alguns aspectos interessantes disso é que tanto o exercício agudo como o crônico seriam capazes de otimizar o efeito das vacinas. O exercício agudo pelo aumento temporário (durante e/ou logo após o término) de vários aspectos da funcionalidade imune já o exercício crônico pelo fato da imunidade ser fortalecida pelo exercício crônico. Além do que o exercício parece só ter eficácia no caso de vacinas que apresentam baixa eficácia (ou seja, se a vacina per se já tem boa eficácia o exercício praticamente não influencia).

O propósito deste texto é introduzir esse tópico é informar mais esse efeito do exercício e não discutir, nesse momento, profundamente os artigos que tratam desse campo de estudo (do exercício atuando como estimulador do efeito da vacinação). Nesse sentido, para aqueles que desejam se aprofundar recomendo a recente revisão de Pascoe e colaboradores (2013).

Serão ainda necessários diversos estudos para que sejam estabelecidos os protocolos ideais para que o exercício promova o máximo de resposta à vacinação. De qualquer maneira, na supracitada revisão, conclui-se haver evidências iniciais de que o exercício agudo (15-30 minutos antes) bem como o crônico potencializam a resposta à vacinação, especialmente em indivíduos que normalmente apresentam resposta imune comprometida (a maior parte dos estudos é com idosos).

Acreditamos que essa seja uma importante era de pesquisa e que ela acabará revelando mais um momento para a prescrição do exercício (antes da vacinação) e/ou explicando como, pelo menos em parte, o exercício físico crônico contribui para a melhoria da saúde via melhoria da imunidade.

Ref - Brain Behav Immun. 2013 Oct 11. pii: S0889-1591(13)00502-3. doi: 10.1016/j.bbi.2013.10.003. [Epub ahead of print]
The effects of exercise on vaccination responses: A review of chronic and acute exercise interventions in humans.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

VAMOS FAZER UMA ATIVIDADE FÍSICA? QUE TAL A CORRIDA? MAS POR ONDE COMEÇAMOS? PELOS TÊNIS?

por Vitor Tessutti*



Por mais que digamos que a corrida é uma das atividades mais simples de se praticar percebemos que cada vez os tênis de corrida ficam mais tecnológicos. Desde o surgimento do primeiro calçado de corrida em 1852 (www.calcadoesportivo.com) até os dias atuais, muito evoluiu. Já se fez de tudo um pouco, colocando a pregos na sola para melhorar a aderência, utilizando a borracha como sola, sendo moldada até em máquinas de fazer waffle,  chegando mais atualmente a colocar um chip para identificar movimentos do pé e efetuar correções em sua rigidez, ou definir velocidade e distância percorrida.

Parece que, entre o antigo e o moderno, muita coisa mudou. Mudou tanto ao ponto de se pensar em abolir os tênis para corrermos, na tentativa de buscar uma corrida mais natural como nossos ancestrais na época das cavernas. A justificativa  de Lieberman (2012) para isso é melhorar a força e a propriocepção do pé, diminuir o impacto, e torná-lo menos “preguiçoso” por todas as funções que o calçado pode apresentar (solas rígidas, suportes de arco plantar e o controle da pronação). 


Em uma posição intermediária entre os tênis de corrida com sola relativamente alta buscando mais amortecimento, e a corrida descalça buscando as origens surgiram os tênis minimalistas. Afinal, a indústria calçadista não poderia perder a possibilidade de vender tênis caso esta onda da corrida natural realmente vingasse. Com o surgimento desse tipo de tênis, a proposta é a de proteção do pé, mas deixando-o livre para que o pé e os seus dedos possam agir mais livremente. Assim, estes tênis têm a característica de serem muito flexíveis favorecendo uma maior interação do pé com o solo. 
 
Utilizando-se um tênis como este de uma forma aguda, ou seja, correndo com ele sem adaptação prévia, percebeu-se que corredores bem treinados, sem experiência prévia de corrida descalça, apresentaram uma maior tendência em correr com o meiopé e antepé (contato com o solo com o pé todo e com a ponta do pé) quando corriam com tênis minimalistas e descalço (Paquette e colaboradores, 2013).

De uma forma mais crônica percebeu-se que mesmo com a utilização dos tênis minimalistas por um período de sete semanas de adaptação não se obteve alguns benefícios esperados como a redução da taxa de impacto no corpo. Os resultados mostraram que a taxa da força vertical (força relacionada ao surgimento de algumas lesões) com o uso do tênis minimalista foi significativamente maior que a situação calçada, mas significativamente menor que a situação descalça. O pesquisador afirma que após as 7 semanas, o pé ainda não é capaz de perceber o impacto ou o desconforto no tendão do Calcâneo. Ele afirma ser necessário um período maior para ocorrerem as adaptações esperadas (Schütte, 2012).

Agora, para os mais céticos quanto ao uso dos calçados para correr que ainda preferem o bom e velho tênis com calcanhar mais alto, com mais material que amorteça a corrida existem algumas informações importantes a serem levantadas. Primeiro, o valor que um corredor gasta na compra de um tênis vale o quanto ele diz que traz de benefícios a seus pés e ao seu organismo? Um estudo realizado na Escócia comparou tênis de 3 faixas de valores:  equivalente a 120 a 135 reais, denominados de barato; 180 e 195 reais, denominados de médio; e  210 a 225 reais denominados de caros (acrescente aí um percentual considerável em impostos se pensarmos nos tênis vendidos aqui no Brasil) de somente 3 fabricantes diferentes. Os autores concluiram que os calçados de baixo e médio custo forneceram o mesmo (se não melhor) amortecimento que os calçados mais caros das mesmas marcas (Clinghan e colaboradores, 2007).  Isso mesmo, os tênis mais caros não obtiveram uma classificação de maior conforto que os demais.

Em  relação à sua durabilidade a pergunta que se faz é: por quantos quilômetros um tênis deve ser usado? Um estudo nacional mediu o comportamento biomecânico dos tênis com uma rodagem de 300 km, fazendo medições a cada 100 km, e concluiu que até essa distância, 300 km, os tênis não demonstraram nenhuma variável que pudesse demonstrar necessidade de serem trocados (Bianco e colaboradores, 2011).

Já em relação a como comprar um tênis a pergunta é: será que a marca pela qual mais simpatizo ou que meu amigo me indicou será a melhor para a minha corrida? Um estudo da Universidade Duisburg-Essen, na Alemanha, suspeitava que a marca e sua imagem tivesse uma influência muito forte sobre os corredores no julgamento subjetivo da qualidade do calçado. Os atletas correram em esteira, em sua velocidade de costume, visualizando parcialmente o tênis (parte superior do calçado, sem ver a marca, denominado de teste aberto) e sem visualizar nenhuma parte do calçado (denominado teste fechado). Cinco modelos de marcas conhecidas (Adidas, Asics, Brooks, New Balance e Nike) e uma marca de baixo custo (Deichmann) foram escolhidos.  Os resultados demonstram uma grande diferença entre os modelos nas notas dadas pelos corredores nas condições aberta e fechada. Os modelos de marcas conhecidas receberam as melhores notas no teste aberto. O tênis desconhecido (DE) somente obteve uma melhor classificação na condição do teste “cego”. Para a condição de corrida com o tênis com a marca encoberta, o tênis de marca desconhecida obteve valores melhores que os tênis de Adidas e Asics. Similarmente, os resultados de percepção de atenuação de impacto foram sempre melhores nas marcas conhecidas e pior na desconhecida (Hennig e Schulz, 2011). Isso mostra que devemos acreditar mais em nossa percepção e nem tanto em propagandas.


E para finalizar, uma pergunta que vejo como muito interessante é: existe função para a alternância de pares de tênis nos treinamentos e provas de corrida? Malisoux e colaboradores (2013) tiveram como objetivo determinar se os corredores que usavam concomitantemente diferentes pares de tênis estavam menos sujeitos a lesões relacionadas à corrida.  Um terço dos 264 participantes se lesionaram na corrida durante a realização do estudo. Os corredores que utilizavam mais de um tênis tiveram um índice de lesões 39% menor que os que utilizavam um único tênis. As estatísticas dos dados obtidos identificaram que o uso de mais de um par de tênis nos treinamentos foi um fator de proteção. Os autores do estudo concluem que usar somente um tênis para correr e praticar somente a corrida são estratégias que podem facilitar o surgimento de lesões pela não variação da carga a que o corpo é submetido. Esta falta de variação é tanto em relação ao calçado como à modalidade. Portanto, ter pelo menos dois tênis e fazer outra modalidade esportiva pode ser muito útil para a sua vida como corredor (Malissoux e colaboradores, 2013).

Enfim, acho que consegui mostrar como a corrida não é tão simples quanto parece. Além dessas, tem diversas outras questões que poderão ser abordadas no futuro já que aqui procurei me ater mais aos tênis que utilizamos.

Até a próxima.



1.    Lieberman, DE. (2012) What we can learn about running from barefoot running: an evolutionary medical perspective.Exerc Sport Sci Rev. 2012 Apr;40(2):63-72. Erratum in Exerc Sport Sci Rev. Jul;40(3):185.

2.    Paquette, M R;  Zhang, S; Baumgartner, L D. (2013). Acute effects of barefoot, minimal shoes and running shoes on lower limb mechanics in rear and forefoot strike runners, Footwear Science , 5:1, 9-18

3.    Schütte, K. H. The Effect of Minimalist Shoe Training on Lower Limb Kinematics and Kinetics in Experienced Shod Runners .[dissertação]. Faculdade de Educação. Universidade de Stellenbosch- Africa do Sul. Dezembro 2012.

4.    Clinghan, R;Arnold, G. P; Drew,T.S; Cochrane,L. A., Abboud,R. J. (2007) Do you get value for money when you buy an expensive pairof running shoes?Br J Sports Med ;0:1–5.

5.    Bianco, R;  Azevedo,  A. P. S; Fraga, C. H. W., Acquesta, F.M; Mochizuki, L; AMADIO, A. C;  SERRÃO, J. C. (2011) The influence of running shoes cumulative usage on the ground reaction forces and plantar pressure responses. Rev. Bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, n.4, p.583-91, out./dez.

6.    Hennig, E.& Schulz, J. (2011). Subjective evaluation of biomechanical shoe properties during blinded and non-blinded running. Footwear Science. , 3:sup1, S75-S76.

7.    Malisoux, L., Ramesh, J., Mann, R., Seil, R., Urhausen, A., &Theisen, D.(2013). Can parallel use of different running shoes decrease runningrelated injury risk?. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports.


* Bacharel em Esporte (EEFEUSP), Mestre em Ciências da Reabilitação (FMUSP), Sócio da Clinica da Corrida, Professor Universitário, Personal Trainer e corredor nas horas vagas.


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Professores Frank e Uchida preparados para as batalhas...

Aqui uma foto nossa, parceiros na vida acadêmica, mas principalmente amigos na vida diária. 

Em breve teremos mais matérias interessantes com diversos temas. E para enriquecer o nosso blog iremos convidar competentes amigos para escrever e compartilhar o conhecimento deles.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Dor Muscular de Início Tardio - uma breve explicação

Clique no título ao lado para assistir: Dor Muscular de Início Tardio - uma breve explicação
Apresentação realizada em outubro de 2013 pelo site Evidência Saúde (http://www.evidenciasaude.com.br/).

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Treinamento intervalado de alta intensidade, Uchida (2013) - publicado na revista Muscle in Form 2013 (ano 15, ed.79]

O treinamento intervalado de alta intensidade (high intensity interval training-HIIT) surge na “praça” como algo novo e revolucionário, principalmente para aqueles que possuem pouco tempo e querem um resultado na melhoria principalmente da capacidade cardiorrespiratória, muscular  e da diminuição da gordura corporal (Schoenfeld e Dawes, 2009), e logicamente estão aptos ao forte trabalho. Mas, como tudo na área da atividade física, nada é plenamente novo, mas uma reinvenção com boa divulgação. A prática dos treinos intervalados de alta intensidade já foi parte da preparação física de atletas expressivos de resistência aeróbia, como Paavo Nurmi atleta de meia e longa distância da década de 1920, ou ainda do extraordinário Emil Zatopek que na década de 1950 popularizou ainda mais a divulgação de tal método de treino (Buchheit e Laursen, 2013a).
Os estudos sobre HIIT nos dias de hoje não estão apenas com um olhar na melhora do rendimento esportivo, como na diminuição das marcas em corridas no atletismo. Existem pesquisas demonstrando que esse tipo de metodologia de treinamento é capaz de melhorar a capacidade cardiovascular e respiratória, a pressão arterial, a função contrátil do músculo cardíaco e a sinalização do hormônio insulina (controla a glicose no sangue) (Tjnna et al., 2008), e além disso pode gerar um grande gasto energético, resultando em uma significativa diminuição da gordural. Porém, deve-se deixar claro que o treinamento intervalado de alta intensidade deve ser praticado por individuos que estejam realmente aptos a realizar esse tipo de prática, com uma sólida base fisiológica e musculo-articular, resultado de um treinamento progressivo, e uma boa saúde cardiovascular (pessoas com idade acima de 35 anos, é indicado um check-up cardiovascular e metabólico prévio com um médico).
O treinamento intervalado de alta intensidade é representado pela execução de repetidas séries de exercícios [ex. corrida (tiros), ciclismo, natação] de alta intensidade, podendo ser inferior a 45 segundos, denominada curta duração, e de 2 a 4 minutos denominada longa, intercaladas por períodos de recuperação. A duração total do treino entre 5 a 40 minutos, incluindo os períodos de recuperação (Buchheit e Laursen, 2013a, b). Os intervalos de alta intensidade são realizados acima do limiar de lactato (i.e. ponto onde há um acúmulo de lactato no sangue, a remoção não supera a produção de ácido láctico), próximo da capacidade aeróbia máxima (VO2max), e da fadiga, essa série ou intervalo de alta intensidade é seguida de um intervalo de baixa intensidade, período de recuperação, que permite que o organismo faça o tamponamento (i.e. deixe o meio menos ácido) e metabolize o ácido láctico do músculo e sangue, permitindo assim que o praticante se recupere para a próxima série de alta intensidade (Schoenfeld e Dawes, 2009). A intensidade pode ser controlada e monitorada utilizando uma escala de percepção de esforço (PSE), como a escala de Borg [ex.: CR-10 (0-10) ou de 6-20], onde o indivíduo deve manter a intensidade ou sensação de “pesado” [≥6 na escala (CR-10)  ou ≥15 (escala 6-20)]  ou “muito pesado” em cada treino. A PSE além de ser prática, respeita a individualidade de cada um, e reflete o grau de estresse gerado sobre os aspectos fisiológicos, bioquímicos e psicológicos. A utilização do percentual da frequência cardíaca máxima para o controle da intensidade do treino nem sempre é a melhor ferramenta para a prescrição, pois essa não reflete precisamente a intensidade, principalmente, durante os tiros de alta velocidade e curtíssima duração (inferiores a 30 segundos) (Buchheit e Laursen, 2013a). Em função da sua característica intensa, vale destacar a importância da necessidade da inclusão de sessões de recuperação, ou seja, treinar todos os dias em alta intensidade e adicionamento fazer outros treinos como musculação pode ser demais para o organismo, levando a queda do desempenho, maior susceptibilidade a lesões, e possível queda da imunidade. Por isso é necessário um planejamento, baseado nos principios da sobrecarga e recuperação, com cuidado nos dias após o treino HIIT, que devem ser menos intensos, talvez alternando dias mais fortes (ex.: HIIT), médios (ex.: duração média, treino intervalado ou contínuo) e fracos (ex.: baixa intensidade, mais longo e contínuo).
A utilização do HIIT parece ser uma alternativa boa para a perda da gordura, melhora do funcionamento cardiorrespiratório e da saúde, pricinpalmente comparados aos intermináveis treinos aeróbios de longa duração e intensidade moderada. Porém, importante destacar mais uma vez que em função da sua natureza de alta intensidade deve ser feita com cuidado, onde previamente o praticante deve estar apto a essa exigência física e fisiológica, assim não causando nenhum efeito negativo a saúde.


Referências bibliográficas:
Buchheit , M.; Laursen, P.B. High-Intensity Interval Training, Solutions to the Programming Puzzle part I. Sports Medicine , v. 43, p. 313–338, 2013a.
Buchheit , M.; Laursen, P.B. High-Intensity Interval Training, Solutions to the Programming Puzzle part II. Sports Medicine , v. 45, p. xxx–xxx, 2013b.
Laursen, Paul B.; Jenkins, David G. The scientific basis for high-intensity interval training. Sports Medicine, v. 32, n. 1, p. 53-73, 2002.
Schoenfeld, B.; Dawes, J. High-Intensity Interval Training: Applications for General Fitness Training. Strength and Conditioning Journal, v. 31, n. 6. P.44- 46, 2009.
Tjønna A.E. et al. Aerobic interval training versus continuous moderate exercise as a treatment for the metabolic syndrome: A pilot study. Circulation 118: 346–354, 2008.