por Vitor Tessutti*
Ano para começar e novos objetivos a serem definidos. Se neste ano você começou a correr e já está pensando em corridas mais longas, ou se está pensando na primeira maratona após ter feito sua primeira meia maratona, atente-se a como irá evoluir os seus treinamentos para esses novos objetivos.

O volume de treino tem sido apresentado como um fator de
risco para a origem de lesões. Uma revisão de 11 artigos feita por Saragiotto e
colaboradores em 2014, demonstrou que os artigos que pesquisaram a relação de
volume semanal e lesão, evidenciavam que volumes maiores que 64 km/semana
tornavam os corredores mais suscetíveis a lesões. Somente um adendo deste
estudo: o fator mais evidente identificado pelos autores nestes 11 artigos foi a
existência de lesões que ocorreram 12 meses antes do levantamento. Ou seja, quem
se lesionou no referido tempo tem que ter mais cuidado ao voltar, pois está
mais suscetível a lesão.
Mas, voltando ao volume de treinamento, outro grande fator é
a progressividade com que aumentamos o volume semanal. Correr 15 quilômetros em
uma semana e na semana seguinte aumentar para 20 quilômetros (aumento de 33%)
pode ser um risco que estamos nos expondo ao surgimento de lesões nos membros
inferiores segundo um estudo da Universidade de Arhus, na Dinamarca, realizado
em 2014 por Nielsen e colaboradores. Segundo os autores, um aumento repentino de
mais de 30% na distância semanal, ao longo de um período de 2 semanas, pode elevar
o risco para o desenvolvimento de lesões relacionadas à corrida.
Este estudo, denominado de DANO-RUN, pesquisou durante um
ano 874 corredores iniciantes que estruturavam o seu próprio treinamento, e, com isso, foram divididos em 3 grandes grupos baseados na progressão de suas
quilometragens semanais. Um deles é de regressão ou progressão de até 10% do
volume, o outro com progressão de 10 a 30%, e o último com progressões maiores
que 30%. Após um ano de estudo, 202 corredores (23,1%) apresentaram alguma
lesão.
Os autores consideraram as dores patelofemorais (parte da
frente do joelho), Sindrome do trato Ílito Tibial (dor na região lateral do joelho), tendinopatias patelares,
Sindrome do Stress Tibial Medial (dor na canela), lesões no Glúteo Médio, Bursite trocantérica (dor na lateral do quadril) e lesões no Tensor da Fascia Lata (também na lateral do quadril) como lesões relacionadas ao aumento exagerado
da distância percorrida.
Segundo os autores, a taxa de lesão pode ser baixa quando o
aumento da distância semanal se der entre 3 e 7%, em períodos seguidos de 2 semanas.
Contrariamente, esta taxa de lesão pode ser elevada quando a progressão ocorrer
a 25% nas primeiras semanas e mais 25% no final de 4 semanas, mesmo esta
progressão não excedendo aos 30%. O problema, neste caso, é a falta de um período de
adaptação para cada elevação de quilometragem.
Para corredores com mais de um ano de experiência, o estudo
de Boyer e colaboradores (2014), realizado na University of
Massachusetts-Amherst, nos EUA, verificou que corredores com menos de 24 quilômetros
semanais têm uma coordenação de movimentos dos membros inferiores diferente dos
corredores com volume maior de 32 quilômetros semanais. Neste caso, os
corredores com maior volume apresentaram menos lesões nos joelhos. Sendo assim,
os autores acreditam que os padrões de coordenação dos movimentos dos membros
inferiores na corrida em indivíduos que correm mais são otimizados ao ponto
de diminuir a chance de lesões nos joelhos.
Considerando estes dois últimos estudos podemos afirmar que para
corrermos com menor susceptibilidade à lesões, precisamos considerar que ao
iniciar a corrida é preciso controlar muito bem o quanto do volume semanal será
aumentado, respeitando um aumento de até 10% a cada duas semanas. Já para os
indivíduos mais experientes, um volume semanal mais elevado pode fazer com que
se otimize a coordenação de movimentos dos membro inferiores. Para a corrida, a
máxima: “ A diferença entre o antídoto e o veneno está na dose” calça como um
tênis extremamente confortável. Você não acha?
Referências Bibliográficas:
Hreljac, A. (2004). Impact and
overuse injuries in runners. Medicine
and Science in Sports and Exercise, 36(5), 845-849.
Saragiotto, B. T., Yamato, T. P., Junior, L. C.
H., Rainbow, M. J., Davis, I. S., & Lopes, A. D. (2014). What are the main
risk factors for running-related injuries? Sports
Medicine, 1-11.
Nielsen, R. Ø., Parner, E. T., Nohr,
E. A., Sørensen, H., Lind, M., & Rasmussen, S. (2014). Excessive
progression in weekly running distance and risk of running-related injuries: an
association which varies according to type of injury. Journal
of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, 44(10), 739-747.
Boyer, K. A., Freedman, S. J., &
Hamill, J. (2014). The role of running mileage on coordination patterns in
running. Journal of Applied Biomechanics,30(5),
649-654.
* Bacharel em Esporte (EEFEUSP), Mestre em Ciências da Reabilitação (FMUSP), Sócio da Clinica da Corrida, Professor Universitário, Personal Trainer e corredor nas horas vagas.
Isso serve de alerta para muitos que pensam que, CORRER sem uma preparação específica, vai resolver todos os problemas. Ao contrário, pode gerar muito mais problemas. Parabéns pela informação positiva. Abraço
ResponderExcluirObrigado Grupo Endorfinados!!! Sim, é esta a intenção!!! Mostrar que atrás do "simples" ato do correr existe ciência para tornar esta prática mais segura e duradoura!!!
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